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Paulo Afonso,16/05/2025

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Luiz Rúben: O Garimpeiro do Tempo

Gilmar Teixeira
Luiz Rúben: O Garimpeiro do Tempo Gilmar Teixeira

Nem todo garimpeiro busca ouro. Alguns vasculham o tempo com a mesma paciência de quem remexe o barro em busca de brilho. Luiz Rúben é um desses. Um garimpeiro das notícias esquecidas, dos ecos de um passado empoeirado pelos anos. Desde que chegou em Paulo Afonso, nos idos de 1980, vindo de Jaboatão dos Guararapes, trazia nos olhos a curiosidade de quem vê mais do que a paisagem — vê histórias.


Veio a trabalho, como tantos que aportam em cidades do interior, veio  trabalhar na prefeitura de Paulo Afonso, no governo dos meninos de Zé Ivaldo,  mas logo fez do ofício de viver algo maior: fez dele uma missão de memória. Casou-se com Ângela Maria, companheira de alma e de estrada, e juntos fizeram mais que construir uma família — construíram um acervo. Uma vida inteira dedicada à escavação paciente dos registros, recortes, depoimentos, silêncios e objetos dos tempos do cangaço.


Luiz Rúben não se contentou com os relatos ouvidos à beira do balcão de farmácia ou nas praças de fim de tarde. Quis ver com os próprios olhos o que os jornais dos anos 1918 a 1940 diziam. E lá foi ele, desbravador das letras, enfurnar-se nos porões das bibliotecas de Salvador, Recife, Aracaju, Maceió — cada cidade um mapa, cada acervo, um garimpo. Voltava com imagens, notícias, manchetes esquecidas. Era como se retirasse pepitas de dentro da terra do esquecimento.


Transformou o que encontrou em mais de vinte livros — relíquias do nosso sertão. Livros que hoje são bússolas para quem se aventura pelos caminhos do cangaço, das volantes, dos sertanejos comuns que viveram dias de guerra. A cada página que escreveu, Luiz Rúben devolveu à memória nordestina um pedaço do que a poeira do tempo quis esconder.


Em sua casa, o passado tem lugar de honra. Objetos, documentos, pequenas preciosidades compõem um museu particular — modesto no espaço, gigante no valor. É lá que o tempo repousa, mas nunca dorme. Porque Luiz Rúben, com sua alma de repórter do ontem, segue acordando a história.


Hoje, é impossível falar do cangaço sem citar seu nome. Mais que pesquisador, Luiz Rúben é ponte entre o que foi e o que precisa ser lembrado. Ele não escreve apenas com palavras, mas com paixão, com o olhar atento de quem sabe que o sertão não cabe só nas secas e nas paisagens, mas nas histórias que sobreviveram à bala, à fuga e ao silêncio.


Luiz Rúben é daqueles homens raros que fazem do passado uma missão. E graças a ele — e a Ângela Maria, seu braço direito e seu anjo da guarda —, o Nordeste não perdeu a sua própria voz.


* Gilmar Teixeira




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