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Paulo Afonso,18/06/2025

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“O Silêncio da Ponte”

Gilmar Teixeira
“O Silêncio da Ponte” Foto: Divulgação

“O Silêncio da Ponte”


Nos últimos tempos, minha cidade, Paulo Afonso, tem sido palco de uma dor que se faz notícia. Não aquela dor que vem dos desafios do sertão, da seca ou das batalhas diárias do povo nordestino. É uma dor silenciosa, invisível aos olhos, mas devastadora por dentro. Uma dor que tem levado muitas pessoas a um caminho sem volta, tendo como cenário a imponente Ponte Metálica, que cruza os cânions do velho Chico.


Essa ponte, que já foi símbolo de progresso, de encontros e despedidas, hoje, infelizmente, carrega nas suas vigas histórias de despedidas definitivas. São mais de 90 metros que separam a vida da ausência. E, dentro dessas estatísticas frias que estampam manchetes, estão rostos que conhecemos, vizinhos, amigos, familiares... Gente da nossa gente.


Hoje, ao ler um artigo do jornalista Cledson Santana, senti a urgência de falar, de não silenciar diante dessa realidade. Ele, com muita sensibilidade, nos alertou sobre como devemos agir, sobretudo nas redes sociais, quando o assunto é suicídio. Há uma ética, uma responsabilidade coletiva que precisa ser abraçada. Não é apenas uma questão de informar — é, antes de tudo, cuidar, proteger e acolher.


Quando uma tragédia assim acontece, não cabe a ninguém ser mensageiro do desespero, tampouco repórter da dor alheia. Cabe, sim, dizer apenas que a causa é desconhecida. Porque, às vezes, o detalhe, o sensacionalismo e a exposição podem ser o empurrão que alguém, em seu silêncio, estava tentando resistir.


Por trás de cada história, quase sempre há a depressão — essa doença sorrateira que corrói por dentro, que adoece a alma e que, muitas vezes, é confundida com preguiça, fraqueza ou frescura. E dói mais ainda saber que ela tem feito morada, especialmente, no coração dos nossos jovens.


É preciso, mais do que nunca, quebrar os tabus. Falar sobre saúde mental não é fraqueza. É ato de amor. É cuidado. É salvar vidas. Precisamos aprender a ouvir os silêncios, os pedidos de socorro disfarçados de isolamento, de irritabilidade, de tristeza sem motivo. Precisamos estar atentos, estender a mão, ser abraço, ser ombro, ser porto.


Que Deus conforte as famílias que choram hoje. E que nós, como sociedade, possamos construir um ambiente onde falar de dor não seja motivo de julgamento, mas sim de acolhimento.


A vida, apesar de tudo, sempre vale a pena. E que a nossa ponte, que hoje assiste ao silêncio de tantos, volte a ser apenas caminho, travessia e reencontro. Nunca mais despedida. 


* Gilmar Teixeira




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